25 abril, 2012

Chuva que passa


O ponteiro do relógio aproxima-se do três, lá fora a noite cai forte junto com a chuva e uns pedaços de sonhos remendados de uns e outros seres vazios, que insistem em acreditar que ao raiar do sol um novo dia surgirá e que suas esperanças se renovarão. Infelizes. Mal sabem que mesmo que o sol surja no horizonte, mesmo que as estrelas sumam dando lugar ao céu azul, eles não terão paz. Suas vidas imundas e sedentas permanecerão assim. Teus olhos continuarão na busca incessante pela beleza em seres onde apenas o horror existe. Mal sabem que enquanto buscam por uma felicidade idealizada e, portanto, inexistente, suas vidas são desperdiçadas e a tão almejada alegria distancia-se mais. Porque o objetivo não é idealizar a felicidade, fabricá-la como um objeto comercializado, e sim sugá-la das pequenas coisas que formam nosso dia- a-dia. Mas ainda assim, a chuva permanecia a cair, a lavar um pouco das impurezas das pessoas, maltratando a janela e produzindo um gostoso ruído que acalmava e acalentava corações. O frio fazia uma companhia muda e reconfortante. E assim a noite ia se passando, a lua dando lugar ao sol, e a chuva acalmando-se até se tornar apenas uma garoa. As flores começam então a sorrir e o dia acorda. No lugar do som prazeroso da chuva, as conversas frívolas das pessoas que passam apressadas pela calçada. O frio persistia, brigava com o sol que insistia em aquecer os corpos já frios de vida. Corpos secos. Ocos como caixa de madeira sobre um móbile qualquer. Ocupando um espaço, respirando um ar tão impuro quanto seus atos.

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