02 maio, 2012

Parecia inofensiva...



Se os olhos dela me encontrassem, estou certo de que me decifraria. É impossível evitar. Talvez sejam os lábios, ou quem sabe as pernas expostas – eu e minha tara por pernas longas e expostas. Sei que não faço seu tipo, e mesmo que eu me jogasse inteiro, prometendo-lhe toda minha renda mensal, ainda assim ela recuaria. Esse é o tipo dela. Independente até os ossos. Talvez seja isso também.

E não, não é que esse arrepio que me percorre o corpo sempre que a vejo esteja me abalando. Eu sei bem onde piso. É só que não é todo dia que se encontra uma mulher assim. Há de concordar comigo, mulheres estão em falta no mercado. Não estou falando das facilmente adquiríveis em qualquer prateleira de hipermercado; dessas abstenho-me de comentários ou qualquer coisa relacionado. 

Mas é que, quando ela entrou pelo bar sacodindo a poeira da rua depois de uma viagem de 20 minutos em sua Virago XV 250 de 98, tirou o capacete e balançou os cabelos negros e ondulados, a boca vermelha abrindo em um sorriso sútil… Acho que não preciso dizer mais nada. Aquilo não era uma mulher, uma passagem direta para o paraíso. Talvez o paraíso em si.

Naquele dia ela se sentou na terceira cadeira do balcão, pediu duas doses do drink mais forte que tinha na lista, dispensou uns três rapazes que ousaram lhe pagar uma bebida mais leve, aceitou minha sorrateira  terceira dose “por conta da casa”, sorriu, pago e saiu. E ainda assim, mesmo sem tocar tua pele que parecia febril ou sentir o sabor de teus lábios, sabia que aquela mulher estaria em meus sonhos por um longo tempo. 

Mas a verdade é que não me dou ao luxo de sonhar a um bom tempo, e sei que talvez ela seja uma boa e valida desculpa para um recomeço. 

...mas te dominou.

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