06 novembro, 2012

Subproduto de Rock - Conto (Parte III)

Assim, a amizade entre os garotos começou a fluir, João já almoçava ou jantava na casa de Pedro, isso quando não fazia os dois. Pedro era o baterista da banda e dono da garagem em que tocavam. Garagem tal, que se tornou primeira casa de João, que já se esquecera de dar bom dia à mãe e nem cumprimentava o pai. João virara banda. 

E esta então começou a alçar voou. O primeiro show já lotou o barzinho do Seu José, todo mundo querendo ver os garotinhos da esquina que faziam um som “maneiro”. Eles cantaram Caetano, Elis, Gil, até uma musiquinha de autoria própria, que grudou na cabecinha do público, que saiu do show catando “Nosso amor foi um engano.”. 

Era assim quase todo sábado à noite. A bandinha da garagem do Pedro tocava lá no bar do Seu José, ou em outro ainda mais bem frequentado. Foi criando fama, todo mundo recomendava aos amigos que ouvissem e que fossem aos shows. E lá iam eles, lotar os bares e os corações dos garotos. Fazer um sorriso nervoso brotar no rosto de João, o garoto despojado de voz rouca que cantava com um cigarro aceso nos lábios.

O problema é que João se tornara um rapaz de vícios. Vícios de musicas, de shows, de cigarro e das garotinhas que eles conheciam. Mas dessas garotinhas somente a uma João se apegou. Alma. 

A menina ia a todos os shows e João sempre a via lá de cima. Acenava para ela que ficava toda pomposa. Um dia então ele resolveu procura-la. E encontrou. Saíram pra tomar uma cerveja depois do show, se conhecer; riram a beça. E foi assim que Alma encantou o coração de João. Fazendo-o ri toda vez que acabava de cantar. Alma não se importava se João fumasse e se depois do sexo ele só quisesse que ela repousasse quieta em seu peito, apenas sentindo os subir e descer da sua respiração descompassada e a fumaça tragada a circular por teu pulmão. Ela não se importava quando João tocava a campainha às duas horas da manhã, com frio e fome, depois de brigar com a mãe, que reclama porque o filho não parava mais em casa e por fumar tanto. 

Mas João era teimoso. Alma tanto falava sobre seus vícios, mas o garoto birrento, antes de chegar ao meio da discussão, já saia batendo o pé porta a fora. Ia andar, arejar a cabeça, fumar um cigarro ou dois com Pedro, e beber aquele uísque barato que não faltava na casa do amigo. 

E Alma saturou-se. Procurou sua prima Vera, pediu conselhos, chorou pitangas no ombro da moça. E Vera, razão até os ossos, sem uma gota de amor a circular pelo sangue, disse apenas “Você tá certa, aquele crápula não vale o prato que come.” Alma, coitada, desolada voltou para casa, o coração estraçalhado. E João lá, sem nem imaginar o que lhe esperava quando voltasse. João era assim, meio “nem aí” pra vida. Mas amava Alma, era impossível negar. João era Alma em tudo. Em música que compunha e música que cantava, até em música que sentia. Porque João era repleto de música. Música e Alma.

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