27 abril, 2012

Desejo de ouvir



O hálito quente cheirando o café e um sorriso amarelo entre os lábios. Sorria fácil. Mexia no cabelo enquanto o vento arrepiava os pelos, o meio sorriso ainda entre os lábios. Mergulhava cada vez mais fundo num silencio inconfundível, com o olhar de quem tudo vê mesmo com as pálpebras serradas. E via interior; o cerne de cada de ser desnudo por aqueles olhos que pareciam engolir um por um que passava.

Permaneceu ali sentado, como se fosse estatua, como se o mundo estive estático; mas não. Estático era ele. Estático diante a vida, diante os outros seres, e só.

O vento balançou os cachos desgrenhados de não pentear, fazendo-o despertar do sonho acordado que vivia. Olhou ao redor, como se não reconhece o próprio banco, a própria calçada, a própria casa. Os dedos mexendo-se como se tivessem vida própria, como se não os governasse.

Era desejo incontrolado; abstinência física daquilo lhe mantinha vivo. Morria assim aos poucos. O silêncio tomando conta da alma. Alma que vivia de som, de melodias e dedos incontroláveis a produzir a mais bela das artes.

Alcançou o velho maço de cigarros perdido dentro do bolso da velha calça surrada. Precisava de consolo. Encarou a fumaça que subia lenta e triste; sem som. Atentou os ouvidos, buscando o mínimo barulho possível; talvez os carros que passassem ou talvez o mar do outro lado da rua com sua melodia nostálgica, mas não; o mundo parecia estático. Ou seria ele?

Levantou-se por fim. Sem som, sem fumaça. O gosto de café deu lugar ao tabaco tragado, o meio sorriso aos lábios serrados.  Era então o fim e só.

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